quarta-feira, 10 de dezembro de 2008





"Queimaram tudo, lojas, carros e bancos"

Grécia. A morte de um adolescente de 15 anos às mãos de um agente da polícia grega desencadeou uma onda de violência anarquista, que só encontra um paralelo em 1985 e está a causar um forte embaraço ao Governo conservador de Caramanlis e às próprias forças de segurança deste país
"Aqui, em Atenas, costuma haver confusão com a polícia, mas nos últimos anos nunca a esta escala. Queimaram tudo na baixa da cidade, lojas, carros e bancos. Enquanto falamos isto continua, não só em Atenas, mas noutras cidades do país." É este o retrato que a jornalista da televisão grega Maria Giah-naki fez ontem à noite ao DN, por telefone, sobre a onda de violência anarquista que está a assolar a Grécia, depois de um polícia ter morto a tiro um adolescente no sábado à noite. Há duas décadas um caso semelhante levou a meses de confrontos diários entre a polícia e anarquistas, até mesmo a ataques do grupo terrorista 17 de Novembro.O principal campo de batalha foi ontem a capital grega, principalmente a Avenida Alexandras (onde fica a direcção-geral de polícia) e o bairro de Exarchia (onde Andreas Grigoropoulos, de 15 anos, foi morto). Foi nesta zona boémia da cidade que começaram, em 1973, os grandes protestos estudantis que conduziram à queda da ditadura dos coronéis. Hoje continua a ser um bairro altamente politizado e um feudo anarquista. As manifestações de ontem juntaram nesta zona cinco mil pessoas, segundo números divulgados pela AFP. Três polícias e seis manifestantes ficaram feridos e há registo de pelo menos duas dezenas de detenções. Na segunda maior cidade da Grécia, Salónica, também houve protestos e incêndios - nem o carro de exteriores de uma televisão escapou. Em Patras, no sudoeste, um polícia foi hospitalizado após ter sido espancado por alguns manifestantes. Estes pensam continuar os protestos durante o dia de hoje. "A polícia está a usar gás lacrimogéneo e a tentar travar a violência, mas sem sucesso, porque estão a ter algum cuidado com o uso da força para que a população não fique contra eles", sublinhou aquela jornalista grega.Andreas Grigoropoulos, filho de uma família rica da Grécia, estava em Exarchia com alguns amigos quando passou um carro de polícia, o qual começaram a apedrejar. Um dos dois agentes que estavam na viatura disparou e acertou-lhe. Quando percebeu que o jovem estava morto, pôs-se em fuga. Foi depois detido por homicídio voluntário. O colega, por cumplicidade. O primeiro--ministro grego escreveu, numa carta enviada à família de Andreas, que não haverá indulgência para com os responsáveis da sua morte. Costa Caramanlis, conservador, está visivelmente embaraçado com a situação, mas, mesmo assim resiste, tendo recusado, para já, a demissão do ministro do Interior.

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