quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Este mundo não é para crianças"



Entrevista


No âmbito do tema do nosso trabalho em área de projecto, “Este mundo não é para crianças”, fizemos uma entrevista a uma psicóloga dos cuidados de saúde secundários, que integra o Núcleo de Assistência a Crianças e Jovens em Risco (NACJR), juntamente com uma médica, uma enfermeira e uma assistente social.


Quais os procedimentos dos hospitais quando detetam a possibilidade de maus tratos sobre crianças?


Quando uma criança entra no hospital e o agente de saúde, seja médico, enfermeiro ou assistente de saúde deteta algum tipo de desvio no comportamento, na estrutura física ou outro sintoma desviante da criança, este agente é obrigado a comunicar ao NACJR, que se encarregará de fazer o estudo do caso. Este tratamento começa pela pediatra que analisa o fisico da criança, segue-se a análise psicológica, tratada pela nossa entrevistada, e por fim a assistente social avalia o núcleo familiar. Caso a suspeita de maus tratos se venha a confirmar, a caso é imediatamente comunicado á Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.


Que acções tem o governo perante situações de maus tratos contra crianças?


O governo financia consultas no centro de saúde, tem linhas de apoio à vitima e associações como a NACJR, de caracter regional.


Qual o papel dos psicólogos na vida das crianças em instituições de solidariedade social?


Os psicólogos trabalham os afectos, uma das maiores carências das crianças violentadas, promovem comportamentos ajustados, trabalham a solidariedade, a auto-estima, porque em grande parte dos casos, a violência não é fisica, mas sim psicológica, em que os pais desvalorizam as crianças, os psicólogos tentam demonstrar ás vitimas o seu valor, fazem interacções com os pais, a nível das competências parentais, e caso lhes detetem psicopatologias (como alcoolismo, esquisofrenia, etc.) encaminham-nos para consultas especializadas.


Quais são os tipos de violência mais usuais?


Há a violência fisica, que é visivel a olha nu e qualquer um pode detetar e denunciar, e a violência psicológica, mais dificil de detetar, a qual normalmente os médicos não detetam, tendo os psicólogos que ver a realidade interior. A negligência, a falta de atenção dos pais, a falta de higiene, de comida, a assistência directa dos pais a discutir, a berrar, por vezes a serem violentos um com o outro são factores traumáticos para uma criança, que se sente regeitada, e se sente mal com ela própria.


Como se pode detectar se uma criança é violentada?


As mudanças repentinas de comportamento das crianças são um dos maiores indicadores de que algo não está bem. A violência pode levar a criança ao desespero, á tentativa de suicidio, á fuga de casa, á violencia para com as outras pessoas. Doenças como a bolimia e a anoréxia, ou até intoxicações alimentares podem ser sinónimo de que as crianças têm falta de atenção, carinho, auto-estima. As doenças psicológicas levam a doenças fisicas. Nas escolas quando as crianças são problemáticas, muito mexidas, os professores tendem a dizer que estes são hiperactivos, no entanto isso pode significar alguma anomalia mais profunda no foro psicológico da criança, também os desmaios, vulgarmente ignorados, a ansiedade, e a sonolência são sinónimos de que algo não está bem com a criança.


Quais são as justificações dadas pelos agressores?


Os agressores negam sempre o seu papel nos casos de violência, mas quando confrontados com provas irrefutáveis, culpam as crianças ou carências económicas.


Quais as consequências para os agressores?


Quando provado os agressores são punidos com cadeia, retirada do poder paternal e coimas. No entanto na maior parte dos casos os agressores não são descobertos.


Uma criança violentada tem tendência a ser agressiva com outras crianças?


Sim, e não só com crianças. Como se diz, violência gera violência, embora com diferentes consequências em diferentes crianças, a violência no seio familiar, principalmente quando é contra a própria criança, leva esta a adoptar o mesmo comportamento, umas vezes por revolta, outras para mostar-se superioridade, ou até mesmo por acharem que é o comportamento certo. Não é só a agressividade a consequência comportamental nas crianças, quando impostas a regras estas crianças detestam, como por exemplo, quando vão para uma casa de apoio social, quando saiem aos 16 anos engravidam e não saiem da miséria. Tal como a violência, pobreza gera pobreza.


Qual o papel da sociedade nos comportamentos das pessoas envolvidas?


Existe maus tratos em todos os estratos sociais, mas cada camada tem a sua forma de agressão. As classes mais altas dão telemóveis para substituir a ausência dos pais, é uma violência psicológica, que marca tanto como a violência física que se denota na classe baixa. Os telemóveis da classe alta são os estalos da classe baixa. Dinheiro a maisé igual a negligência infanti, o estado não devia dar dinheiro mas sim condições para criar as crianças.


O que me pode dizer sobre a frase “ as crianças são o reflexo da sociedade moderna”?


Também, a evolução é favorável, mas é preciso saber dosear o tempo, as tecnologias, a conversa. É mais fácil dar o magalhães do que ler uma história.


De que forma a industrialização afectou as relações entre pais e filhos?


As tecnologias apelam ao que é mau. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, estas deixaram de ter dezenas de filhos e de centrar as suas atenções na familia. O trabalho aumentou, diminuiu os filhos, e aumentaram os divórcios. Não que o problema seja a entrada da mulher no mercado de trabalho, o problema foi a inadaptação da familia á falta de tempo da mulher. Hoje em dia ainda há muitos homens que não ajudam nos trabalhos domésticos, assim, a mulher acumula o trabalho for a de casa com o doméstico, tirando tempo e atenção aos filhos.


Qual é a influencia dos media no comportamento inafntil e como reage o agreagado familiar a isso?


Os media interferem negativamente na educação, eles banalizam a sexualidade, a droga, a violência, já não se procura afecto. A familia critica as novelas como os Morangos com açúcar, no entanto, é mais facil deixar as crianças em frente á televisão do que brincar com elas.


Concorda com o titulo do nosso trabalho?


Sim. Este mundo é para o consumismo e para o egocentrismo. Os adultos só pensam em si, não querem saber da interacção com as crianças. A cultura tem de se voltar para os afectos. Esquecemos que já fomos crianças. Uma boa infância dá adolescentes e adultos saudáveis, tanto psicológica como emocionalmente. A infância são os alicerces da vida.
A entrevista terminou, mas a psicóloga deixou-nos dois concelhos para melhorar o nosso trabalho, um é pesquisarmos sobre um psicólogo conhecido, de seu nome “Bandura”que tem uma tese sobre a aprendizagem por modulos, e por últimoque vissemos o filme “O verão azul”.

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